O Desenvolvimento Econômico é área relativamente recente. Até pouco tempo, os economistas com produção expressiva acreditavam que só o crescimento seria capaz de gerar riqueza, que seria naturalmente dividida entre a população. É a teoria de fazer o bolo crescer, mas na hora de dividir, ele nunca é grande o suficiente. A história já nos mostrou que essa riqueza pode até medir a grandeza de países, mas não resulta necessariamente em qualidade de vida para a população.
Um dos pontos cruciais para que esse fenômeno ocorra é a concentração dos meios de produção – áreas agrícolas, indústrias, e mais recentemente os serviços. Sabe quando um único empresário da cidade é dono da loja de carros, do supermercado e do posto de gasolina? Então… Esse é o cenário também quando falamos de economia global: poucos são os agentes que conseguem realizar investimento, enquanto a maior parte da população se limita a trabalhar nesses locais, ou comprar deles.
Primórdios do Desenvolvimento: o Grande Impulso
No início da pesquisa acadêmica sobre como melhor distribuir as riquezas, não se pensava muito em pesquisar dentro dos países, mas entre eles. Esse é o caso de Paul Rosenstein-Rodan, que durante a Segunda Guerra Mundial percebeu que alguns países demorariam mais para se recuperar que outros. Esses países, subdesenvolvidos, tinham sua capacidade de produção investida na agricultura, com pouca evolução tecnológica e mão de obra extremamente mal-preparada.
O economista polonês propôs então as bases do que seria uma nova fronteira de pesquisa econômica, o desenvolvimentismo. Classificado como o pioneiro dos pioneiros, Rosenstein-Rodan percebeu que era necessário desenvolvimento tecnológico e industrialização de áreas com muitos subempregos. Assim, ele acreditava que seria possível expandir a economia com distribuição de renda e crescimento econômico.
Suas ideias estão disponíveis em dezenas de obras, e podem ser resumidas no conceito do Grande Impulso. Para ele, o desenvolvimento dependia da organização de uma rede de indústrias, semelhante a uma teia. Cada pequena indústria produziria os insumos para uma outra, e assim todas teriam seu funcionamento garantido. Essa “teia” geraria possibilidades de expansão das receitas de toda uma cadeia de suprimentos, empregando mais gente e gerando mais qualidade de vida. Um resultado secundário muito importante é que os empregos agrícolas, com pouco conhecimento técnico envolvido, seriam gradativamente substituídos por empregos mais tecnológicos, na indústria.
E apesar da formação de Rosenstein-Rodan ter grande influência da Escola Austríaca, o economista acreditava fortemente no papel do Estado. Para promover a capacitação da mão de obra necessária à industrialização e estabelecer a infraestrutura (como estradas, ferrovias, fornecimento de energia elétrica) do Grande Impulso, seria necessário uma grande estrutura. Não acredite em tudo que vê e ouve no YouTube!
Economista brasileira aborda os clássicos do desenvolvimento econômico
Essas e muitas outras ideias relacionadas ao tema estão no livro Nove Clássicos do Desenvolvimento Econômico, de Fernanda Cardoso. Rosenstein-Rodan é apenas o primeiro dos autores abordados, que conta ainda com ideias de Singer, Nurkse, Lewis, Hirschman, Myrdal, Kalecki, Prebisch e Celso Furtado. Originalmente publicado como uma tese de doutorado, o livro traz precursores para uma das áreas de maior importância na pesquisa em Ciências Econômicas. De linguagem acessível mesmo para quem inicia os estudos na área, o livro é uma ótima fonte inicial para compreender como trabalhar por uma sociedade que se desenvolva de maneira equilibrada em diferentes aspectos.
É crescente a percepção de que sociedades mais igualitárias e desenvolvidas geram populações mais felizes e produtivas – sem que para isso empregue-se crianças em fábricas, como no período da Revolução Industrial. E neste momento de pandemia, muito similar ao pós-guerra estudado por Rosenstein-Rodan, as ideias trazidas são ainda mais importantes!